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Matéria: Rock e Religião - Por que raios existe rock cristão?

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

By: Jônathas Sant'Ana - Whiplash


Meu último texto para o Whiplash foi uma lista de 18 músicas de 6 ótimas bandas cristãs e jovens (bandas jovens e bandas cristãs geralmente sofrem algum tipo de rejeição). Não deu muito ibope e alguns dos comentários foram irônicos.

Mas analisando a fundo. Por que mesmo existe rock cristão?

As Origens

Dentre os fãs do rock, há quem cante “God gave rock’n roll to you” e há quem cante “O diabo é o pai do rock”, dentre os “crentelhos” há quem goste do ponto de vista do RAUL SEIXAS e há quem possa até não gostar do KISS, mas certamente citaria LARRY NORMAN, um carinha de cabelos loiros e longos, que era considerado o pai do rock cristão (mesmo que haja controvérsias a esse respeito por conta da banda The Crusaders).


Larry
Em um dos seus shows realizados nos anos 2000, pouco antes da sua morte em 2008, Larry contou que na sua pré-adolescência achava engraçada a juventude curtindo Elvis Presley e os pais dizendo que aquilo era música “imoral” e do “capeta”, pois apesar de ser loiro, ele tinha crescido numa comunidade negra, e frequentado uma igreja lá, e dentre toda uma geração que acabara de conhecer aquela sonzera, ele era o único que sabia que na verdade aquilo tinha suas raízes na música tocada nas igrejas cristãs negras.

Logo após contar isso, ele toca sua música provocadora tanto para os “crentelhos” quanto para os rockers antirreligiosos. Com ousadia ele faz a pergunta em tom de desafio, acompanhada por um trocadilho genial (subvertendo completamente o sentido da gíria ‘rock’n roll’):

“I know what's right, I know what's wrong, I don't confuse it.
All I'm really trying to say
Is why should the devil have all the good music?
I feel good every day
'Cause Jesus is the rock and he rolled my blues away.”

Ao contrário do que muitos pensam, o rock cristão não é assim tão novo.

Norman é considerado o pai do rock cristão por que até onde se conhece, foi dele o primeiro álbum completo gravado em estúdio com o estilo musical unido a letras religiosas e é importante saber um pouco sobre ele, sua carreira e sua mensagem, para entender todo o cenário do “rock de Deus”. Esse seu primeiro álbum, “Upon this Rock” (mais um trocadilho, fazendo referência a um texto bíblico – Sobre esta Rocha) foi lançado em 1969 e carrega em si uma qualidade musical, criatividade e primor artístico que fez curvarem vários astros do rock.

Com uma soberba trajetória, Norman possui uma discografia com cerca de 90 títulos e muita criatividade.

Ele influenciou vários artistas cristãos e não cristãos. Frank Black do PIXIES chegou a gravar uma versão de “Six-Sixty-Six” no seu álbum FRANK BLACK & THE CATHOLICS, fez citação em “Levitate Me” e foi um dos convidados de Larry num show em Salem em Junho de 2005; Dizzy Reed, do GUNS’N ROSES tocou com Norman no álbum Copper Wires de 1998.

Em 1974, Larry gravou no AIR Studios de GEORGE MARTIN. Por conta de algumas similaridades musicais, seus discos deste ano acabaram sendo comparados aos BEATLES e numa entrevista sobre o assunto, PAUL MCCARTNEY disse que Norman poderia ter sido um dos mais significativos artistas dos anos 70, se ele não se restringisse a temas espirituais.

O fato é que Norman fez algo único: não foi apenas a estética musical do rock’n roll que ele adotou, ele usou também a linguagem, uma versão subvertida dos conceitos e falou sobre coisas espirituais dentro de assuntos corriqueiros e sociais.

Isso foi em parte fruto do chamado Jesus Movement, que foi uma contracultura que surgiu em resposta à contracultura Hippie (!). O Jesus Movement surgiu entre jovens cristãos que curtiam um estilo de vida livre de rótulos moralistas que tinham mais a ver com sociologia do que com teologia, mas não abriam mão dos seus princípios bíblicos, e Larry foi quem deu voz e música a essa corrente.

E sem medo de defender o que acreditava. Em plena era de valorização do esoterismo e do espiritualismo no meio da nação protestante norte americana, ele compõe sua “Forget Your Hexagram” dizendo mais ou menos o seguinte, em tradução livre:

“Esqueça o seu hexagrama, em breve você vai se sentir bem
Pare de olhar para as estrelas
Você não vive sob os signos
Não mexa com os ciganos
Ou tenha a sua sorte lida
Mantenha a sua mesa no chão
E não ouça os mortos

Você não pode pegar carona em seu caminho para o céu
O diabo fechou as estradas
Você vive e morre uma só vez, sem
Episódios de reencarnação
Você não pode pedir carona para o céu
Ou chegar lá, mas apenas seja bom
As regras foram estabelecidas há muito tempo
Quando os pregos estavam na madeira.”

A Expansão

Depois do sucesso (e polêmica) do Larry, que certamente foi criticado pelos religiosos, o rock cristão, tido como um dos precursores do Contemporary Christian Music, permaneceu por um tempo dentro das raízes do blues e no folk, com artistas como MYLON LEFEVRE, BRUCE COCKBURN, PHIL KEAGGY, dentre outros.


Stryper
Foi o PETRA e a RESSURECT BAND que trouxeram um pouco mais de peso e distorção à cena. O crescimento foi natural e maior logo após o surgimento do STRYPER e a sua popularização, não só entre o público cristão, como também entre o público não cristão. Eles chegaram a ter vídeos tocados na MTV (To Hell with the Devil era o hit), assim como em rádios mainstream.

A expansão até os primeiros anos 80 foi natural, mas lenta, devido ao conservadorismo que pairava sobre o público, mas no final dos anos 80 e inicio dos anos 90 a quantidade de bandas de rock e heavy metal com letras que falavam da crença protestante cresceu e originou bandas de diversos subgêneros. O rock cristão nos dias de hoje é aceito com naturalidade pela juventude que cresceu nos anos 90, e apesar de grande aceitação, ainda não é bem recebido em todos os lugares.

A Controvérsia

É fato que sempre houve uma relação complicada entre religião (mais evidentemente e quase em sua totalidade o cristianismo, para ser mais específico) e o rock, mais pela imagem que um passa para o outro superficialmente, do que pelo estilo musical em si.

No meio dessa linha de fogo, o rock cristão entra como o mais rejeitado: rejeitado pelos cristãos conservadores que sempre associam rock ao que ele representou nos anos 60 e 70, assim como rejeitado também pelos adeptos da filosofia rock’n roll que sempre associam religião a algo que prende as pessoas e inibe o que o rock’n roll prega.

É espantoso pensar em como o rock cristão sobreviveu com tanta resiliência a esses choques vindo de ambos os lados.

Mas isso só se pensarmos superficialmente.

Afinal, quais as chances de sobrevivência de um grupo que une a paixão e o fanatismo religioso à paixão e a atitude rock’n roll?

A Definição

Para responder a pergunta é necessário definir: o que realmente define se uma banda é rock cristão?

É com certa falta de conhecimento que muitos religiosos afirmam que a música calma e suave é a única que eleva ao Sagrado, assim como muitos rockers afirmam que rock é atitude, é estilo, é lutar contra o Sistema (inclusive religioso) e por isso não pode ser associado à religião.

O que acontece é que quando se prende aos padrões, fica difícil se libertar deles. O que muitos ignoram é que ao desfiar-se um padrão, geralmente cria-se um novo.

Antes de ser um estilo de vida, o rock é um estilo de música.

É inegável que existem reações e sentimentos provocados pela música em si, mas por si só, sem as letras, as performances e as informações culturais, música é um fenômeno físico que por si só é moralmente neutro e pode causar diferentes reações em pessoas diferentes, de acordo com as suas experiências e opiniões.


E engana-se quem acha que essa controvérsia ocorre apenas com o rock. A banda TOURNIQUET em sua música “Besprinkled in Scarlet Horror” conta:

“Disseram a Bach há trezentos anos atrás
‘Você trabalha na igreja, há algo que você deve saber
Nós te contratamos para escrever música que glorifique
Mas estas toccatas e fugas simplesmente horrorizam’
Ele disse, ‘São apenas notas colocadas juntas nas barras
E por que vocês acham isso errado?
Eu só levanto os meus braços.’”

Ainda nessa música eles questionam sobre a temática do rock ser geralmente associada (erroneamente) à violência e ao gosto pelo “gore”, perguntando: Por que ignorar as feridas de Jó, a cabeça de João Batista num prato, as pedras que mataram Estevão e o pavor escarlate do Calvário?

No fim das contas, diante de tudo isso, o que define uma banda de rock como cristã?

Definitivamente NÃO é a sonoridade.

Em suma, poderíamos definir o rock cristão como aquele que fala sobre temas cristãos e bíblicos em seu conteúdo lírico. Mas será que é só?

É fato que vários artistas do rock chamado secular tiveram educação cristã e muitos deles mantêm essa fé, assim como existem músicas tocadas por artistas considerados seculares que falam de Cristo. Muitos artistas preferem não misturar as coisas, outros não veem problema nisso.

Assim como, por outro lado, existem diversas bandas compostas integralmente por cristãos e que não falam apenas de Deus e do evangelho em suas músicas – fala-se desde sentimentos até problemas sociais.

Portanto, traçar uma linha definida entre uma banda cristã ou não cristã pela presença de palavras como “Deus”, “Jesus” e “Salvação” na sua música, é ser simplista demais na análise.

A questão vai além das letras: tem a ver com a mensagem da banda. Se você conhecer ambas as coisas, saberá perceber a diferença entre uma mensagem positiva e uma mensagem positiva cristã.

O Motivo

O maior motivo de todas as controvérsias existentes nos dois lados da moeda é simples: falta de conhecimento.

Quem conhece rock e música em geral, sabe que o principal princípio dessa arte é justamente a liberdade de expressão, seja essa expressão antirreligiosa, reacionária ou espiritual. É ser livre para usar a música a favor de uma mensagem ou mesmo de um sentimento.

Qualquer um que restrinja o estilo a temáticas específicas ou exclui temáticas específicas, está ferindo um dos princípios mais básicos da arte e da música.

Assim como quem tem o mínimo de conhecimento correto a respeito do cristianismo, sabe que na Bíblia – o manual de fé dos cristãos – não existe nenhuma ordem específica ou condenação a respeito de estilos musicais específicos e que as restrições são mais culturais do que teológicas.

“Ahh! Mas as origens...” Dane-se as origens. Qualquer estudo vai achar um ponto em comum entre os estilos musicais mais opostos que possam se encontrar.

Além do mais, há algo em comum entre Deus e os movimentos “outsiders”: ambos gostam de subverter o princípio contra o qual estão lutando. Qual melhor maneira de fazer isso?

A última polêmica veio do GHOST, que usa toda uma linguagem religiosa para criticar a religião. Em contrapartida, os cristãos do APOLOGETIX “subvertem” clássicos do rock e do heavy metal secular para pregarem seu evangelho através de paródias (muito bem executadas, por sinal) destes clássicos.

O Stryper, em sua “The Rock that Makes me Roll” foi na contramão da contracultura ao dizer:

“Eles dizem que o rock and roll é forte
Mas Deus é o “rock” (o balanço, a Rocha) que nos faz “roll” (rolar, correr)
Não precisamos de drogas para nos ajudar a seguir em frente
Nós temos o poder d'Ele em nossas almas
Levante-se e lute
Por aquilo que você acredita
Nós sabemos...”

E com essa simples estrofe eles resumem o princípio básico do por que existem letras de protesto e desabafo no rock e também por que o Evangelho pode ser encaixado num contexto de revolução: lutar pelo que se acredita.

Se por um lado o rock’n roll impediu que a religião escravizasse toda a nação americana, o rock cristão do Larry Norman e seus seguidores contribuiu para que a juventude da época conseguisse alcançar um equilíbrio pouco visto entre a certeza da sua fé e o pensamento questionador.

É ignorância sem tamanho dizer que uma coisa é inimiga mortal e não misturável da outra, quando na verdade a atitude do rock unida à mensagem de inconformidade do cristianismo bíblico (livre de convenções religiosas) é algo ainda mais chocante, controverso e polêmico em si, pois questiona não só a falta de religiosidade como questiona também a religião (só dá uma olhadinha nas letras do TOURNIQUET, no “Die religion die” do BRIAN HEAD, no “Liar” do FIREFLIGHT ou no “Jesus Freak” do DCTALK).

Afinal, independente da sua veracidade, se fosse uma mensagem sem força, não seria amada por uns, odiada por outros e discutida por todos.

A pergunta que fica é: até quando os “crentelhos” lutarão contra a própria causa ao reprimir a arte da sua juventude sem base NENHUMA no seu livro-guia? E até quando os “roqueiros” usarão a contradição da “luta contra o Sistema” para justificar seus dogmas tradicionalistas quase religiosos?

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